Cosmos | Por Carl Sagan

A Rússia prepara-se para abandonar o Cósmodromo de Baikonur?

Anatoly Perminov, o responsável máximo pela Agência Federal Espacial Russa declarou que um homem de negócios russo estava a treinar para voar como turista espacial em 2009 e acrescentou que a Rússia precisava de reduzir a sua dependência do Cosmódromo de Baikonur, no Casaquistão, no que concerne à exploração espacial tripulada: “Se criarmos um novo veículo espacial tripulado, o que o nosso programa antecipa para o ano de 2015, então iremos necessitar de um novo foguetão e este vai precisar de uma nova plataforma de lançamento.” E a Rússia ainda não decidiu se esta seria contruída no Casaquistão…

Perminov referia-se obviamente ao Kliper - o que está muito longe de ser uma novidade - mas esta é a primeira vez que surgem referências à possibilidade de construção de um novo cosmódromo ou da conversão de um dos três cosmódromos militares para uso civil. A opção da conversão parece pouco viável… Svobodny e Kapustin Yar estão muito longe dos centros industriais russos e seriam um verdadeiro pesadelo logístico e o cosmódromo de Plesetsk, no norte da Rússia, é demasiado sensível, com os seus frequentes lançamentos de satélites top secret para poder ser partilhado com civis ou simplesmente reconvertido.

Baikonur, entre todos estes cosmódromos pela sua posição mais perto do Equador permite uma notável poupança de combustível em cada lançamento (pela mesma razão que a Europa lança os seus satélites da Guiana Francesa). A Rússia paga actualmente um aluguer ao Casaquistão pelo uso do Cósmodromo aqui construído durante a era da União Soviética e Perminov, garantiu que a Rússia continuaria a usar este cosmódromo, mesmo se construísse uma nova instalação, já que existe um acordo entre os dois países para o uso russo destas instalações até 2050 e que a Federação paga 115 milhões de dólares anuais ao Casaquistão pelo uso destas instalações, o que para o Casaquistão não é um valor desprezável, mas que se encontra bem abaixo dos custos de construção de uma instalação nova destas dimensões algures na Rússia…

O renovado orgulho russo pode ser bem observado aqui nestas declarações, como em muitas outras prestadas recentemente em várias ocasiões… A própria anomalia efectiva que é o uso das instalações espaciais de Baikonur pela segunda maior potencia espacial do planeta, isto é, de um território alugado num país estrangeiro (o Casaquistão) é algo que a Rússia actual enfrenta com crescente desconforto e que julga como uma forma de um país estrangeiro poder manter alguns dos interesses estratégicos mais importante em estado de reféns permanentes… Por esta razão, hoje em dia, os lançamentos militares são todos realizados a partir de Plesetsk e se Baikonur continua a ser o centro de todos os lançamentos tripulados ou civis, isto deve-se à sua imensa escala e à quantidade de recursos que aqui foram investidos ao longo das décadas de exploração espacial soviética e russa… Não é expectável que estas instalações sejam abandonadas antes de 2050, mas os trabalhos de Plesetsk, acelerados depois das disputa financeira pelo contrato de aluguer em 1994 indicam a vontade russa de se libertar deste cosmódromo e estas declarações… ainda que logo seguidas de um veemente: “é aburso pensar sequer que podemos sair de Baikonur”, levam a pensar… Se é assim tão absurdo porque foi esta questão levantada aqui, nesta conferência pelo mais alto responsável pelo programa espacial russo, e de livre vontade sem que sobre tal tivesse sido interrogado pelos jornalistas?

Fonte: Space.com

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