País disputa órbita para satélite com vizinhos
Jamil Chade
Genebra - Brasil, Venezuela e países andinos abrem uma disputa pelos céus da América do Sul. Hoje, em Genebra, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, se reunirá com delegações de Colômbia, Bolívia e Peru para negociar uma solução para um impasse na concessão de um espaço orbital considerado estratégico na América do Sul. A Venezuela, que está aliada ao Uruguai e à China, também quer a aprovação de um espaço orbital para que possa lançar seu satélite Simon Bolívar durante as Olimpíadas de Pequim, em 2008. Costa acredita que a Venezuela poderá financiar o satélite andino.
“A esperança dos países andinos é de que a Venezuela financie a construção do satélite”, afirmou o ministro. A delegação venezuelana nega que esteja envolvida com os andinos.
A autorização para o uso das diferentes órbitas é dada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), que realiza nesta semana em Genebra sua conferência sobre radiocomunicações. “Precisamos dessa posição orbital”, afirmou Costa. Segundo o ministro, o Brasil destinaria R$ 700 milhões ao novo satélite.
A órbita 68, como é conhecida, foi dada aos países andinos há sete anos. Mas o grupo tinha até o fim de setembro para lançar um satélite. Pelas regras internacionais, caso o prazo não fosse respeitado, outro país poderia usá-la.
Os países andinos, porém, querem que o prazo seja prorrogado para permitir que possam ter seu satélite. O Peru insiste em que o Brasil não precisaria dessa órbita, já que ocupa outras oito posições.
Já os colombianos preferiram não comentar o assunto. Um assessor do governo de Bogotá alegou que não é conveniente tratar do tema agora, pois as negociações estão em pleno andamento.
De acordo com Costa, pelas regras, o Brasil seria o país para quem a concessão seria passada se os primeiros da lista não cumprissem o prazo. Há poucas semanas, o governo colombiano ligou para o Palácio do Planalto pedindo que o Brasil desse um maior prazo para que pudessem ter seu satélite. “Não queremos problemas com nossos vizinhos. Mas deixamos claro que, se a UIT acatar a prorrogação do prazo, aceitaríamos. Caso contrário, lançaríamos nosso pedido pela concessão da órbita”, explicou o ministro.
ACORDO
No caso da Venezuela, o país quer a ampliação de seu prazo - que também venceu - para o uso de uma posição orbital. No caso de Caracas, trata-se de uma concessão que a UIT tinha dado ao Uruguai. Montevidéu, porém, não teria recursos para a construção do satélite e acabou fechando um acordo pelo qual os venezuelanos pagariam a conta em um satélite que está sendo montado na China. “Trata-se de algo muito importante para nós”, afirmou o presidente da Unidade Reguladora de Serviços de Comunicações do Uruguai, Leon Lev. “Esse será o primeiro satélite uruguaio.”
Lev conta que foi até o Palácio do Planalto há duas semanas pedir apoio pela ampliação do prazo da UIT. “Entendemos que, no nosso caso, o Brasil vai adotar uma posição de neutralidade”, afirmou. Já Cuba, ontem, fez questão de anunciar que apoiava a ampliação dos prazos tanto para os andinos como para a Venezuela, alegando que todos os países em desenvolvimento devem ter o direito de possuir seus próprios satélites e um prazo maior lhes deve ser dado pela comunidade internacional.
Para que os andinos, venezuelanos e uruguaios obtenham o novo prazo, a UIT precisará votar o pedido. Costa admite que a UIT poderá acabar concedendo essa ampliação. Mas tem sua estratégia clara. A idéia do governo é de que a prorrogação seja de apenas um ano para os andinos.
“Nesse tempo, prepararemos nosso plano de satélite e, quando o prazo deles acabar, já teremos nosso programa pronto”, afirmou. “Já entreguei ao governo uma proposta de satélite de R$ 700 milhões. Temos o dinheiro para isso e precisamos do satélite.”
Segundo o ministro, a posição orbital sobre a Amazônia é estratégica para o País. “Nossos interesses são de defesa, estratégicos e comerciais por essa posição”, disse. Segundo ele, há um grande déficit de satélites hoje no País.
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