Colisão além de Marte implicada na extinção dos dinossauros
O meteoro gigante que causou a extinção dos dinossauros iniciou sua viagem rumo à Terra 100 milhões de anos antes de colidir com nosso planeta, e a milhões de quilômetros daqui. Como num bilhar cósmico, o que colocou o meteoro a caminho foi o impacto de outro corpo. A "biografia" da rocha espacial que abriu caminho para que os mamíferos dominassem a Terra foi delineada por uma equipe de astrônomos americanos e checos, e aparece na edição desta semana da revista Nature.
O rastreamento do meteoro de 10 km de diâmetro que abriu a cratera de Chicxulub no México, há 65 milhões de anos, desencadeando uma série de eventos que teria contribuído, ou mesmo causado, a extinção em massa dos dinossauros começa, na verdade, no cinturão de asteróides, uma faixa de rochas que orbita o Sol entre Marte e Júpiter.
A equipe liderada por William Bottke tentava determinar o evento que teria dado origem a um grupo, ou "família" de asteróides, a Baptistina, batizada com o nome de seu maior representante, o asteróide 298 Baptistina, de 40 km de diâmetro.
Cálculos sugeriram que a família teria surgido a partir da desintegração de um asteróide muito maior, de 170 km de diâmetro, há 100 milhões de anos. Simulações mostraram, porém, que nem todos os "filhotes" do Baptistina original teriam ficado no cinturão junto dos demais irmãos.
"Tentamos duplicar, do melhor modo possível, as condições que existiram imediatamente após o evento que formou a família", explica Bottke. "Rodamos diversas simulações de computador usando diferentes famílias-modelo, e comparamos os resultados com as observações".
Irmãos desgarrados - Entre as observações levadas em conta, evidências de que o fluxo de asteróides com um quilômetro ou mais de diâmetro que se chocam com a Terra ou com a Lua praticamente dobrou ao longo dos últimos 100 milhões de anos.
Os irmãos desgarrados do Baptistina poderiam explicar esse dado: se as conclusões de Bottke estiverem corretas, não só a Terra e a Lua, mas Marte e Vênus também estão vivendo os momentos finais de uma chuva de asteróides que começou há 150 milhões de anos e atingiu o auge há 100 milhões.
Mas, se a desintegração do Baptistina original se deu há 160 milhões de anos, por que o impacto de Chicxulub demorou tanto a ocorrer? Por que o asteróide passou tanto tempo a caminho? "As forças que atuam nos asteróides são minúsculas", diz Bottke.
O primeiro impulso é gerado pela radiação que o asteróide emite ao espaço depois de ser aquecido pelo Sol, por exemplo. "Esta é uma força muito pequena, e pode levar dezenas de milhões de anos para que um asteróide de um quilômetro ou mais se desloque numa distância significativa".
Depois disso, o asteróide pode cair numa região onde a gravidade de Marte ou Júpiter consegue arrancá-lo do cinturão, jogando-o numa rota que cruze a órbita de um planeta como a Terra. Mesmo aí, podem se passar dezenas de milhões de anos antes que os dois corpos, planeta e asteróide, se encontrem no mesmo ponto do espaço ao mesmo tempo.
Lua e Vênus - Além das simulações de computador para reconstituir a desintegração do Baptistina original e os rumos possíveis tomados pelos fragmentos, a equipe de Bottke se vale de uma análise estatística e de composição química para identificar o meteoro de Chicxulub com um desses asteróides. A semelhança entre os vestígios do meteoro mexicano e os remanescentes da família Baptistina coloca, segundo o artigo na Nature, a chance dessa identidade ser correta em mais de 90%.
A Terra e os dinossauros não foram as únicas vítimas dos fragmentos do Baptistina: Bottke atribui a formação da cratera lunar Tycho - com 85 km de diâmetro, surgida há 109 milhões de anos - e de pelo menos uma das quatro maiores crateras de Vênus à mesma chuva de rochas espaciais.
Essas descobertas não afetam os cálculos de risco de a Terra ser atingida por outro evento catastrófico no futuro próximo, diz Bottke. "A população atual de objetos próximos da Terra não é reabastecida muito depressa pelo cinturação de asteróides, ao menos não na escala de vida de um ser humano", diz ele. "Estimamos que um asteróide do cinturão principal com mais de 100 km se rompa uma vez a cada 200 milhões de anos".
A astrônoma Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional, e que encabeça o projeto brasileiro Impacton, de busca por asteróides que possam representar ameaça para a Terra, diz que o artigo de Bottke e colegas é bastante convincente, mas que é preciso levar em conta que ainda há vários fatores desconhecidos envolvidos.
"Eles juntaram algumas peças do quebra-cabeças, mas restam ainda muitos espaços vazios", diz. "O trabalho tem um forte apoio nos dados que se conhecem hoje em dia, mas ainda é apenas uma hipótese".
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