Cosmos | Por Carl Sagan

Roscosmos prepara defesa contra ameaças espaciais

Cientistas russos estão desenvolvendo projetos de sistemas destinados a coletar informações sobre os objetos celestes mais perigosos para a Terra e, se necessário, destruí-los. Ainda assim, a Rússia não tem, até agora, uma estratégia de combate às ameaças espaciais.

Andrêi Kisliakov | Gazeta Russa


A probabilidade de queda de objetos espaciais na Terra aumenta de ano para ano. A Nasa (agência espacial norte-americana) apontou que, em julho de 2013, havia 16.602 objetos construídos pelo homem em órbitas circunterrestres, dos quais 3.612 satélites em serviço ativo. O restante era lixo espacial com origens diversas. Além disso, a Terra tem sido ativamente atacada por asteroides.

"Se antes se acreditava que incidentes como a queda do meteorito de Tunguska ocorre uma vez a cada 700 a 900 anos, agora se afirma que tais eventos podem ocorrer a cada 90 a 100 anos”, diz o acadêmico Iúri Zaitsev. Na última década, foram descobertos mais asteroides do que nas duas décadas anteriores. “As colisões são praticamente inevitáveis, é só uma questão de tempo”, acrescenta o cientista.

O segmento orbital do sistema internacional de observação de asteroides Citadel, cujo projeto foi apresentado em março passado, deve contar com dois ou três veículos espaciais observadores, satélites de identificação de alvos e satélites interceptores para destruir ou desviar os asteroides potencialmente perigosos para a Terra.

Os autores do projeto contam que a construção do sistema pode levar de 5 a 6 anos, e custará cerca de US$ 2 bilhões.

Projetos alternativos foram apresentados pela Corporação de Foguetes Espaciais Enérguia e pelo Centro de Desenvolvimento em Tecnologias Espaciais Semion Lávotchkin. A Enérguia se dispõe a desenvolver, entre 2020 a 2030, um foguete nuclear para colocar em órbita munições antiasteroides, enquanto o Centro Lávotchkin tem pronto um projeto conceitual de veículo espacial que iria pousar sobre a superfície de um asteroide e colocar nele um radiofarol para determinar com maior precisão sua trajetória.

O presidente da Agência Espacial Russa (Roscosmos), Vladímir Popóvkin, é da opinião de que os métodos de ação sobre um corpo espacial devem levar em conta seu tamanho, peso, composição e propriedades. Os cientistas russos defendem a ideia de destruir asteroides e cometas perigosos com munições nucleares. No entanto, ainda não se sabe qual escudo antiasteroide será exatamente escolhido pelas autoridades.

“Mas a construção de um escudo antiasteroide nuclear no espaço pode gerar um grande problema político-militar internacional”, afirma o vice-primeiro-ministro russo responsável pela indústria armamentista e setor aeroespacial, Dmítri Rogózin. Segundo ele, alguns países podem aproveitar para colocar em órbita armas nucleares com fins militares.

Visita do espaço

A destruição física de asteroides é uma questão para o futuro. No presente, a intenção é coletar informações sobre os corpos celestes mais perigosos para a Terra. Um deles é o asteroide Apophis.

Em 2004, os astrônomos avisaram que o Apophis poderia colidir com a Terra em 2029. Mais tarde, porém, verificou-se que ele passaria próximo ao planeta. Mas se o Apophis cair em um dos buracos da fechadura gravitacional de 2 a 600 metros de largura, a colisão será inevitável.

Apesar das afirmações da Nasa de que as chances de colisão com o Apophis nas próximas décadas são praticamente nulas, o risco de colisão existe. “Portanto, a Terra deve começar a se preparar para isso desde já”, acredita o diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais da Academia de Ciências da Rússia, Lev Zeleni.

“Em minha opinião, a solução mais eficaz seria pousar na superfície do asteroide um veículo espacial e tentar alterar sua trajetória por meio de propulsores elétricos”, completa o cientista.

Um projeto conjunto russo-americano de captura e transporte em direção à Lua de um pequeno asteroide poderia ser concebido para elaborar as respectivas tecnologias.

“O objetivo é rebocar um asteroide em direção à órbita da Lua que possui diâmetro de 15 a 20 metros e colocar nele uma expedição ou um veículo automático para estudá-lo”, disse Popóvkin em abril passado, sobre o projeto que custará aproximadamente US$ 2,65 bilhões.



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