O combate aos erros na fabricação de foguetes espaciais
Defeitos de fabricação são identificados em motores de foguetes espaciais russos e empresas fazem amplo recall de produtos. Os testes complementares serão feitos em seis meses; ação deve atrasar pelo menos 8 dos 27 lançamentos programados para acontecer em 2017.
Oleg Egorov | Gazeta Russa
Pela segunda vez neste mês, casos de problemas na fabricação dos motores dos foguetes espaciais foram divulgados na Rússia. O grupo estatal Roscosmos anunciou que ia recolher todos os motores suspeitos de terem defeito para realizar um controle suplementar — e isso poderá retardar em seis meses uma parte dos lançamentos espaciais no país.
Foguete-portador Proton-M no cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão Foto:Serguêi Kazak/RIA Nôvosti |
O último teste feito nos motores dos foguetes Proton-M (utilizados majoritariamente para transporte de carga até a estação espacial internacional) localizou um defeito, anunciado pelo comerciante ontem (25). Parece que foram usados materiais não adaptados para sua fabricação — não foram encontrados metais preciosos nem material suficientemente resistente ao calor. O grupo Roscosmos, responsável por sua produção, acabou fazendo um recall e reenviando os motores para novos testes.
Ivan Moisseiev, diretor do Instituto de Política Espacial, estima que a ação da empresa foi justificada. “O motor de um foguete funciona a temperaturas que derretem a maioria dos metais, e devem utilizar um sistema de resfriamento bastante complexo”, diz. “Se, como neste caso, os defeitos não são casos isolados, mas compõem uma escolha errada de materiais usados, o caso põe em risco todos os foguetes.”
Outros motores
Não é a primeira vez em que os motores dos foguetes russos apresentam defeitos. Em 1º de dezembro no ano passado, a Rússia perdeu o caminhão espacial Progress MS-04 por causa de problemas com o motor. O motor do foguete Soiuz-U, que se desintegra completamente a 192km de altitude, é fabricado pela mesma empresa que faz os Proton, a usina mecânica de Voronej (UMV).
Uma enquete especializada chegou à conclusão que foi a UMV a responsável pela queda do Progress, seu diretor geral pediu demissão na ocasião do anúncio das conclusões e os motores que compunham os Soiuz-Z foram recolhidos para testes suplementares. “Neste caso, criamos uma comissão para identificar e eliminar as causas do problema, e enquanto elas não desaparecem, nenhum foguete será lançado”, explica Ivan Moisseiev.
Lançamentos retardados
Ontem [no último dia 25], representantes da Roscosmos declararam estar realizando uma “verificação total da qualidade de seus produtos”, principalmente de “parâmetros que não eram checados há décadas”. E o procedimento inclui os motores fabricados pela UMV. Ivan Moisseiev afirma que o tempo estimado para o controle dos motores do Proton é de seis meses, e, enquanto isso, nenhum foguete será lançado.
“Um motor é testado tanto pelas razões de suas falhas, mas também todos os outros pontos fracos são verificados”, nos diz o especialista. “E isso não se faz rapidamente.”
Assim, o próximo lançamento dos Proton não poderá ser feito antes do próximo verão —os foguetes deste tipo deverão compor de 8 dos 27 lançamentos previstos para acontecer em 2017.
A duração dos testes
Ivan Moisseiev sublinha que cada lançamento está estreitamente ligado ao tipo de míssel e à sua carga, ou seja, não é possível substituir os Proton por outros foguetes. Em entrevista à imprensa o representante oficial da Roscosmos, Ígor Burenkov, reconheceu que o grupo sofre perdas financeiras por causa do cancelamento dos lançamentos (comerciais), mas que sua prioridade era de “compreender as causas (das falhas) ainda em terra”. O calendário dos lançamentos deve ser atualizado daqui a algumas semanas.
O controle dos motores usados nos Proton, na UMV, será feito pela associação de pesquisa e produção Energomash. Seu diretor geral, Ígor Arbuzov, informou que a organização tem, entre seus membros, o criador dos motores do Proton, KB Khimautomatiki, e que por isso, a associação conhece profundamente as características técnicas dos motores e pode garantir a eficiência dos testes complementares.
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