Cosmos | Por Carl Sagan

Astrônomos revelam misteriosa estrela cujo comportamento não pode ser explicado

A lista de estrelas misteriosas que perderam o brilho por razão desconhecida foi ampliada com a descoberta do corpo celeste FO na constelação do Aquário. Ambos os componentes desta estrela dupla perderam o brilho duas vezes nos últimos anos, diz-se no artigo publicado pelo Astrophysical Journal. 


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"Quando esta estrela ‘saiu da sombra' do Sol e nós conseguimos reiniciar as observações, ficamos chocados com o fato de ela ser sete vezes mais opaca que em noutras épocas de pesquisa. A extinção de uma estrela quer dizer que a anã branca deixou de roubar matéria da sua vizinha e até hoje não se sabe por quê. Embora a FO do Aquário tenha começado a ganhar brilho de novo, este processo levou demasiado tempo", afirma Colin Littlefield da Universidade de Notre Dame (EUA). 

Pessoas observam estrelas. Foto do arquivo
© AFP 2016/ PHILIPPE HUGUEN

A estrela FO do Aquário pertence a um raro tipo de estrelas duplas, as chamadas estrelas duplas polares. De costume, eles representam uma grande anã branca e uma estrela "normal" menor que circulam muito perto uma da outra. Graças a isso, uma parte das camadas externas da estrela normal fica na "zona de influência" da anã branca, que atrai e rouba sua matéria. 

Tal processo aumenta o brilho do sistema e o faz variar entre certos limites, à medida que a anã branca "digere" o hidrogênio roubado e o incendia na sua própria superfície. Os vestígios disso podem ser observados nos tufos de raios X que o hidrogênio provoca ao cair na superfície da "estrela-vampiro".

A FO do Aquário é a estrela deste tipo mais próxima da Terra, já que fica apenas a 500 anos-luz de nós. Em 2014, quando o telescópio Kepler começou a funcionar no âmbito da missão K2, ele estudou a parte da constelação do Aquário onde se situa a FO. Isto, pela primeira vez na história, permitiu que os cientistas avaliassem sua luminosidade e conhecessem seus parâmetros astrofísicos.

Passados dois anos, quando a estrela "saiu da sombra" do Sol, os cientistas decidiram verificar os resultados da pesquisa efetuada pelo Kepler. Mas foram pegos de surpresa: o brilho da FO tinha diminuído em mais de dois valores estelares durante este período, reduzindo-se em 7 vezes. Os astrônomos nunca haviam observado algo parecido ao estudar os corpos celestes duplos. 

Mas não foi apenas o brilho que mudou. A estrela começou a "piscar", reduzindo e aumentando sua luminosidade 50% cada 22 e 11 minutos, variando estes ciclos cada 2 horas. Segundo acreditam os cientistas, tais flutuações de brilho têm a ver com a velocidade rápida com a qual a anã branca circula a estrela "comum".

Por enquanto, os cientistas não conseguiram entender o porquê da diminuição do brilho. Eles também não podem explicar por que a anã branca suspendeu seu "almoço" e voltou à "dieta comum" com grandes atrasos. Littlefield e seus colegas acreditam que a causa pode ser a enorme mancha na superfície da metade "normal" da FO do Aquário que, por acaso, fica no local onde a anã branca "rouba" a matéria.

O forte campo magnético na área da mancha teria atrasado o processo de transferência do hidrogênio e feito diminuir o brilho do sistema. 

Por outro lado, isto não explica os mais lentos ritmos de restauração do brilho celeste. É por isso que a estrela passou a fazer parte da categoria especial de corpos celestes cujo comportamento não pode ser explicado pela ciência contemporânea, que também engloba a "estrela dos extraterrestres" KIC 8462852 e outros.


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