Cosmos | Por Carl Sagan

Estudante da UnB que ganhou viagem para o espaço começa treinamentos em simuladores

Em entrevista ao R7, Pedro Nehme conta detalhes da preparação


Myrcia Hessen | R7

O aluno do curso de Engenharia Elétrica da UnB (Universidade de Brasília), Pedro Nehme, 23 anos, será o segundo brasileiro a viajar para o espaço. Ele ganhou uma promoção mundial da companhia área holandesa KLM, que propunha aos internautas arriscar um palpite sobre o quanto conseguiria subir um balão de alta altitude lançado no deserto de Nevada, nos Estados Unidos, e, desde então, o jovem tem se preparado para sua viagem ao espaço.




Ele conta que no início a euforia de ter ganho a viagem alterou toda sua rotina, já que recebia inúmeras ligações de amigos e até mesmo da imprensa, mas agora tudo voltou ao normal. Desta forma, o rapaz tem conseguido focar nos treinamentos que o preparam para a viagem.

— Estou fazendo treinamentos desde o início do ano, já passei por um treinamento em uma centrífuga [Simulador de situações no espaço]. Em abril, junto com a Força Aérea e o Instituto de Medicina lá do Rio de Janeiro, fiz um estágio de adaptação fisiológica. Nesse mês, fiz um voo em um caça, com a FAB também, em Canoas (RS), e, durante esse voo, fizemos simulações de alucinações que vou ter durante o voo espacial.

Sobre a rotina, Pedro conta que só teve que alterar a alimentação. Ele explica que não há alimentos proibidos, mas durante o treinamento, é melhor que não esteja enjoado ou passando mal e, para isso, os médicos orientam evitar a ingestão de cafeína, chocolate e gordura, por exemplo.

— Esse alimentos poderiam afetar a parte do equilíbrio, que é muito sensível, me deixar enjoado e eu deixaria de aproveitar o treinamento.

O estudante diz que os treinamentos na centrífuga simulam exatamente a cabine do veículo espacial, até com indicadores de velocidade. Ele também precisa ficar atento aos sintomas de efeitos biológicos que podem ser perigosos durante a viagem. Em termos leigos, trata-se da aceleração do corpo, que pode fazer com que o sangue suba para a cabeça e faça com que ele desmaie durante a viagem.

— Faço exercícios [antes dos treinamentos] para evitar que isso aconteça. Durante a aceleração, você tem que contrair o músculo para fazer aumentar a pressão. [Nessa situação], imediatamente você vê que está faltando sangue na sua cabeça, porque a visão começa a fechar, como se você estivesse enxergando em um binóculo, em seguida tem a perda de visão e a perda da consciência. É preciso prestar atenção nesses sintomas, mas, uma vez que você entende o que está acontecendo, fica tudo sob controle. É uma situação diferente, uma carga diferente no seu corpo, mas é uma condição necessária para a viagem.

Questionado se está com medo de passar por isso no espaço, Pedro responde de pronto que não, porque está sendo treinado para lidar com a situação.

— Não me dá medo, mas preciso aprender a lidar com ela [aceleração] para realizar a viagem. Se não tivesse o treinamento seria mais complicado, porque você ganha confiança é no treinamento.

Pedro é fissurado pelo espaço desde que era criança. Ele conta que sempre teve curiosidade de saber como era e, por isso, escolheu a profissão de engenheiro elétrico e sempre leu muito sobre o assunto. Em 2012, o jovem participou do programa Ciências Sem Fronteiras, do Governo Federal, e conseguiu um estágio na Nasa. Foi ali que o espaço parou de ser apenas um hobby e passou a ser seu projeto de futuro profissional.

— Eu passei nove meses lá [nos Estados Unidos], trabalhando em um balão de alta altitude. Foi enriquecedor do lado profissional e pessoal. [A Nasa] é um ambiente muito dinâmico, você lida sempre com pesquisadores de alto nível, você tem profissionais dedicados o tempo todo àquela atividade e o projeto muda de uma semana para outra. Do ponto de vista da engenharia elétrica, dá uma cadência de projetos muito boa. É muito bom você estar junto de pessoas que já trabalharam em vários projetos e aprender com elas.

Já experiente por conta de seu trabalho na Nasa, o estudante não encontrou problemas para vencer o concurso que o levará ao espaço. Isso porque a competição consistia em acertar o ponto em que um balão cheio de gás hélio iria estourar. Apesar de o balão ser bem diferente do que ele estava acostumado a lidar e de os organizadores não oferecerem aspectos físicos para a realização de um cálculo, Pedro assumiu algumas condições com os conhecimentos que tinha para realizar um cálculo e acabou acertando.

— Claro que foi sorte, não tinha como chegar em um número exato, só faixa de valores, mas para conseguir essa faixa de valores era necessário um certo conhecimento. O balão não era igual ao que eu trabalhava na Nasa, era bem menor, mas se você entende como funciona, você se dá bem.

Pedro Nehme será o primeiro civil brasileiro a viajar para o espaço. O astronauta Marcos Pontes, militar, foi o primeiro a deixar o planeta, em 2006. Ele passou cerca de uma semana na Estação Espacial Internacional, mas Pedro fará uma vôo diferente e mais simples, chamado de suborbital, o que significa dizer que ele não entrará em órbita da Terra.


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