Cosmos | Por Carl Sagan

Crise sistêmica faz indústria espacial russa mudar de rumo

Reformas estruturais ganharão reforço de setor privado e alianças internacionais. Entre as opções de parceria tecnológica, governo russo avalia participação dos países do Brics em projetos conjuntos.


Viktória Zaviálova | Gazeta Russa

No sábado passado (16), o veículo lançador Proton-M que transportava o satélite de comunicação mexicano MexSat-1 se desintegrou naatmosfera logo após o lançamento. No início do mês, outro acidente já havia atingido a indústria espacial russa: o cargueiro Progress-26M, que levava mantimentos para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) perdeu o controle e não chegou ao destino planejado.


Crise sistêmica faz indústria espacial russa mudar de rumo
Número de acidentes envolvendo veículos lançadores russos cresceu nos últimos anos Foto: AP

De acordo com as conclusões preliminares, ambos os acidentes teriam sido causados por problemas com os motores. “Os incidentes são consequência de uma crise sistêmica na indústria”, publicou o vice-premiê Dmítri Rogózin em sua conta no Twitter.

Mesmo assim, Rogózin, que é também responsável pela indústria espacial do país, demonstrou otimismo ao declarar que os problemas atuais poderão ser resolvidos com as atuais reformas administrativas e estruturais da agência espacial russa Roscosmos.

No entanto, alguns especialistas afirmaram que a reforma administrativa é, de fato, insuficiente para vencer a crise sistêmica. “Está tudo ruim, desde o processo de fabricação e qualidade das peças até o controle e execução das missões”, critica o chefe do Instituto de Política Espacial, Ivan Moissev.

“Para superar essa crise precisamos de pessoas e recursos. As bases da crise sistêmica foram estabelecidas ainda durante a era soviética, mas nada foi feito para resolver o problema”, acrescenta Moissev.

Aposta no Brics

O projeto do Programa Espacial Federal (PEF), que determina o desenvolvimento da indústria para o período entre 2016 e 2025, está sendo avaliado pelo Kremlin. O documento prevê que a Rússia reduza os custos com exploração espacial em 10% ao longo da próxima década, incluindo gastos com a produção de veículos lançadores.

No entanto, segundo especialistas, para sair da atual crise, a Rússia precisaria também focar no desenvolvimento da atividade privada aplicada na indústria espacial e à cooperação internacional.

“O programa poderia considerar uma aliança tecnológica mais forte com os países do Brics”, sugere Serguêi Jukov, cosmonauta de testes e presidente do Clube Espacial de Moscou. A Roscosmos já declarou estar disposta a trabalhar com os Brics no projeto de uma nova estação espacial, que poderia substituir a ISS depois de 2024.

Apesar do corte de verba com pesquisas científicas, o programa dispõe de projetos interessantes, como a busca ativa de vida extraterrestre e o desenvolvimento de um novo veículo lançador de classe média para substituir a família Soyuz.

Das pequenas empresas ao cosmos

O PEF da Roscosmos cita, pela primeira na história da indústria espacial russa, a necessidade de suporte aos produtores que trabalham com naves espaciais pequenas. Porém, segundo Jukov, a Roscosmos deve desenvolver a partir do zero os projetos de apoio à chamada ‘pequena cosmonáutica’, e não apenas investir nos já existentes.

“Eu acredito que o Estado deve ser responsável por desenvolver o programa espacial privado. É preciso introduzir no programa subsídios de apoio aos produtores privados. Só assim podemos esperar que, no futuro, o programa espacial russo não seja um fardo pesando sobre o orçamento”, diz o cosmonauta.



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