O Brasil na elite da astronomia. Mais uma vez!
Cássio Leandro Dal Ri Barbosa | Observatório
Na década de 1980, o mundo da astronomia vivia a “era dos telescópios de 4 metros”. O poder de observação se pelo diâmetro do equipamento. A década de 1990 viu os primeiros telescópios da classe de 8 metros serem inaugurados e entrarem em operação, com o desenvolvimento e consolidação de novas tecnologia.
Com uma comunidade astronômica ainda pequena, o Brasil passou ao largo dos instrumentos da classe de 4 metros, fazendo uso de telescópios estrangeiros através de colaborações. Mas quando começaram as conversas para o upgrade dos telescópios, nós não ficamos só olhando e entramos num consórcio internacional para a construção de dois telescópios de 8 metros de diâmetro, um no Havaí e outro no Chile. O observatório chama-se Gemini (gêmeos), por estar dividido entre dois lugares.
E qual é o próximo passo?
Astrônomos têm sempre de pensar à frente, vinte anos adiante. Não se podem esgotar as capacidades de um instrumento para depois se começar a pensar no seu substituto. Por isso, já há alguns anos, a nova classe de telescópios está sendo pensada e construída. Trata-se da classe de telescópios gigantes, com 20 a 30 metros de diâmetro.
Só que nenhum país hoje consegue verba para, sozinho, bancar um "Leviatã" desses, apenas consórcios internacionais com vários parceiros conseguem levantar os recursos necessários. Três grandes projetos hoje estão na agenda dos astrônomos: o Telescópio Gigante Magalhães (GMT), o Telescópio de Trinta Metros (TMT) e o Telescópio Extremamente Grande (ELT). Todos os 3 precisam arrumar parceiros interessados e que tenham dinheiro para investir.
E aí que depois de 2 anos de análises e muita discussão, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aprovou um projeto submetido por 4 astrônomos da Universidade de São Paulo para bancar a compra de uma das cotas do consórcio do GMT. Neste caso, a Fapesp está pagando US$ 40 milhões de dólares para garantir 4% do tempo de observação, mas por conta das normas da fundação apenas os astrônomos baseados em instituições do estado de São Paulo poderão pedir tempo. O diretor científico da FAPESP garante que está em negociação como o Ministério da Ciência e Tecnologia para no futuro dividir os custos com o governo federal, ampliando assim o acesso ao telescópio.
Esse era um passo importante para a astronomia do país. Se o Brasil ficasse de fora de um desses três projetos, a próxima janela de oportunidade poderia se abrir depois de 30-40 anos. Até lá, ficaríamos longe de instrumentos de ponta, fazendo ciência “menor”. Há ainda a possibilidade de entrar no consórcio do ELT, o que significa na verdade entrar no grupo de países europeus que mantém observatórios no Chile. O problema é que esse é um acordo entre países e para que seja ratificado, o Congresso Nacional precisa aprova-lo. Já são 4 anos de tramitação e, até agora, nada.
Além de ter uma cota de 4% das noites observáveis, o Brasil pode de imediato participar da construção do telescópio, inclusive do prédio e de toda a estrutura que o sustenta, com participação da indústria brasileira. Ainda podemos participar da construção de instrumentos, bem como poderemos mandar pesquisadores e estudantes para estagiar no exterior.
O GMT está previsto para estar operacional, parcialmente, em 2021. Quando estiver concluído, ele será composto por 7 espelhos, cada um deles de 8,4 metros de diâmetro, produzindo um telescópio com uma capacidade equivalente a um instrumento de 25 metros. Três desses espelhos já foram fabricados na Universidade do Arizona, nos EUA. Além dela, mais 10 instituições fazem parte do consórcio, reunindo norte-americanos, australianos, sul-coreanos e nós brasileiros.
O telescópio será construído em Las Campanas, no Deserto do Atacama, no Chile. O topo da montanha já foi explodido para nivelá-lo e agora começa a construção civil e a pavimentação das estradas. Com a tecnologia já dominada, esse será certamente o primeiro dos 3 projetos a ser finalizado.
Mas afinal, como esse megatelescópio vai contribuir na prática para avançar nossos conhecimentos do universo?
Essa classe de telescópios será a responsável por finalmente termos uma imagem direta de planetas rochosos em outros sistemas planetários, bem como estudar sua atmosfera. Essa capacidade nos levará a determinar quais planetas são candidatos a possuir vida.
Além disso, investigará a natureza da energia e matéria escura, como se formaram as primeiras galáxias, procurará pelas primeiras estrelas formadas no universo e os detalhes de formação das estrelas que levam à formação de sistemas planetários. Em última análise, ajudará a responder questões sobre como foi o começo do universo e qual deve ser o seu destino.
Com a aquisição da cota de 4%, teremos garantidas 4% das noites do observatório para distribuir da maneira que acharmos melhor. É claro que será baseado no mérito científico das propostas enviadas, mas isso garante que teremos acesso ao telescópio. Em outros projetos, como o ELT do ESO isso não acontecerá, pois a política lá é outra. Mesmo pagando, não há garantias de que o país membro irá usar o telescópio.
Sou dos signatários deste projeto e nem preciso dizer que fiquei radiante com a notícia. Apresentei um trabalho alguns meses atrás mostrando como ele será útil para os meus interesses. Basicamente, vou poder acessar os locais de formação de estrelas, do lado mais distante da Via Láctea! Hoje, até o Hubble sua para fazer isso.
Na década de 1980, o mundo da astronomia vivia a “era dos telescópios de 4 metros”. O poder de observação se pelo diâmetro do equipamento. A década de 1990 viu os primeiros telescópios da classe de 8 metros serem inaugurados e entrarem em operação, com o desenvolvimento e consolidação de novas tecnologia.
Com uma comunidade astronômica ainda pequena, o Brasil passou ao largo dos instrumentos da classe de 4 metros, fazendo uso de telescópios estrangeiros através de colaborações. Mas quando começaram as conversas para o upgrade dos telescópios, nós não ficamos só olhando e entramos num consórcio internacional para a construção de dois telescópios de 8 metros de diâmetro, um no Havaí e outro no Chile. O observatório chama-se Gemini (gêmeos), por estar dividido entre dois lugares.
E qual é o próximo passo?
Astrônomos têm sempre de pensar à frente, vinte anos adiante. Não se podem esgotar as capacidades de um instrumento para depois se começar a pensar no seu substituto. Por isso, já há alguns anos, a nova classe de telescópios está sendo pensada e construída. Trata-se da classe de telescópios gigantes, com 20 a 30 metros de diâmetro.
Só que nenhum país hoje consegue verba para, sozinho, bancar um "Leviatã" desses, apenas consórcios internacionais com vários parceiros conseguem levantar os recursos necessários. Três grandes projetos hoje estão na agenda dos astrônomos: o Telescópio Gigante Magalhães (GMT), o Telescópio de Trinta Metros (TMT) e o Telescópio Extremamente Grande (ELT). Todos os 3 precisam arrumar parceiros interessados e que tenham dinheiro para investir.
E aí que depois de 2 anos de análises e muita discussão, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aprovou um projeto submetido por 4 astrônomos da Universidade de São Paulo para bancar a compra de uma das cotas do consórcio do GMT. Neste caso, a Fapesp está pagando US$ 40 milhões de dólares para garantir 4% do tempo de observação, mas por conta das normas da fundação apenas os astrônomos baseados em instituições do estado de São Paulo poderão pedir tempo. O diretor científico da FAPESP garante que está em negociação como o Ministério da Ciência e Tecnologia para no futuro dividir os custos com o governo federal, ampliando assim o acesso ao telescópio.
Esse era um passo importante para a astronomia do país. Se o Brasil ficasse de fora de um desses três projetos, a próxima janela de oportunidade poderia se abrir depois de 30-40 anos. Até lá, ficaríamos longe de instrumentos de ponta, fazendo ciência “menor”. Há ainda a possibilidade de entrar no consórcio do ELT, o que significa na verdade entrar no grupo de países europeus que mantém observatórios no Chile. O problema é que esse é um acordo entre países e para que seja ratificado, o Congresso Nacional precisa aprova-lo. Já são 4 anos de tramitação e, até agora, nada.
Além de ter uma cota de 4% das noites observáveis, o Brasil pode de imediato participar da construção do telescópio, inclusive do prédio e de toda a estrutura que o sustenta, com participação da indústria brasileira. Ainda podemos participar da construção de instrumentos, bem como poderemos mandar pesquisadores e estudantes para estagiar no exterior.
O GMT está previsto para estar operacional, parcialmente, em 2021. Quando estiver concluído, ele será composto por 7 espelhos, cada um deles de 8,4 metros de diâmetro, produzindo um telescópio com uma capacidade equivalente a um instrumento de 25 metros. Três desses espelhos já foram fabricados na Universidade do Arizona, nos EUA. Além dela, mais 10 instituições fazem parte do consórcio, reunindo norte-americanos, australianos, sul-coreanos e nós brasileiros.
O telescópio será construído em Las Campanas, no Deserto do Atacama, no Chile. O topo da montanha já foi explodido para nivelá-lo e agora começa a construção civil e a pavimentação das estradas. Com a tecnologia já dominada, esse será certamente o primeiro dos 3 projetos a ser finalizado.
Mas afinal, como esse megatelescópio vai contribuir na prática para avançar nossos conhecimentos do universo?
Essa classe de telescópios será a responsável por finalmente termos uma imagem direta de planetas rochosos em outros sistemas planetários, bem como estudar sua atmosfera. Essa capacidade nos levará a determinar quais planetas são candidatos a possuir vida.
Além disso, investigará a natureza da energia e matéria escura, como se formaram as primeiras galáxias, procurará pelas primeiras estrelas formadas no universo e os detalhes de formação das estrelas que levam à formação de sistemas planetários. Em última análise, ajudará a responder questões sobre como foi o começo do universo e qual deve ser o seu destino.
Com a aquisição da cota de 4%, teremos garantidas 4% das noites do observatório para distribuir da maneira que acharmos melhor. É claro que será baseado no mérito científico das propostas enviadas, mas isso garante que teremos acesso ao telescópio. Em outros projetos, como o ELT do ESO isso não acontecerá, pois a política lá é outra. Mesmo pagando, não há garantias de que o país membro irá usar o telescópio.
Sou dos signatários deste projeto e nem preciso dizer que fiquei radiante com a notícia. Apresentei um trabalho alguns meses atrás mostrando como ele será útil para os meus interesses. Basicamente, vou poder acessar os locais de formação de estrelas, do lado mais distante da Via Láctea! Hoje, até o Hubble sua para fazer isso.
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