Em sigilo, Jobim negocia um satélite com a França
Formato prevê prestação de serviços a empresas privadas de aviação e telecomunicações, o que ajudaria no pagamento
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A PARIS
A implantação de um satélite de monitoramento do espaço aéreo e territorial brasileiro é um dos principais temas tratados em sigilo pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, durante sua estada de uma semana na França. Trata-se de mais uma disputa entre fornecedores de França, EUA e Rússia, mas o Brasil tende para os franceses.
Jobim falou sobre o satélite na parte privada da audiência com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, na terça-feira, e também no jantar com o presidente mundial da empresa Thales, Dennis Ranque, na noite do mesmo dia. Não falaram de detalhes nem de valores, mas, conforme a Folha apurou, o custo previsto do programa é de cerca de US$ 1 bilhão, mais US$ 500 milhões para infra-estrutura de terra.
O projeto tem a sigla SGB (Satélite Geoestacionário Brasileiro) e foi idealizado para atuar em três frentes: a banda X, de comunicação militar e de defesa estratégica, informações meteorológicas e modernização do controle do tráfego aéreo. Desde a venda da Embratel, o governo não tem controle da banda X, alugando satélites para esse uso.
O objetivo principal é de defesa do espaço aéreo e territorial, com desdobramento para outras funções, conforme especificações detalhadas pela empresa Atech Tecnologias Críticas, sob a coordenação da Agência Espacial Brasileira.
Trata-se de um projeto de Estado, mas o formato em estudo prevê prestação de serviços a empresas privadas de telecomunicações e de aviação, por exemplo. Com isso, o programa se pagaria em 15 anos.
A francesa Thales é sucessora da antiga Thomson, que instalou três dos quatro Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) no Brasil no início dos anos 70. Em 2001, também apresentou um plano de modernização de todo o sistema.
Hoje, a Thales tem participação na Omnisys brasileira e também adquiriu 25% da DCNS, empresa francesa que produz os submarinos convencionais (diesel-elétricos) Scorpène que o Brasil pretende adquirir como molde para o futuro submarino de propulsão nuclear brasileiro.
A empresa Raytheon, norte-americana que forneceu o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) na década de 1990, ofereceu um projeto de satélite ao Brasil, mas Jobim pediu uma avaliação ao ministro Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), responsável pela elaboração do futuro Plano Estratégico de Defesa, que desaconselhou a opção.
Do ponto de vista estritamente brasileiro, o projeto de satélite também está interligado com a auditoria/consultoria que Jobim pretende fazer no sistema de controle de tráfego aéreo, sob bombardeio desde o choque entre o jato Legacy e o Boeing da Gol que matou 154 pessoas em 2006.
O SGB é resultado de um acordo internacional, do qual o Brasil é signatário, no âmbito da ICAO (Organização Internacional de Aviação Civil). Por esse acordo, o país terá de adotar o sistema para as operações de controle de tráfego aéreo via satélite até 2010 ou 2011.
Ou tem o seu próprio satélite adequado à mudança, ou terá que alugar um satélite internacional. O mais provável é que tenha de passar pelo aluguel numa fase de transição até concluir o programa do Satélite Geoestacionário Brasileiro.
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