Cosmos | Por Carl Sagan

Corrida espacial entre China e Índia tem como destino a Lua

Jo Johnson, em Nova Déli
Mure
Dickie, em Pequim

Financial Times

A China e a Índia estão planejando o lançamento de naves espaciais à Lua dentro de um ano. Este é o mais recente sinal da intensificação da rivalidade entre as duas potências asiáticas e da sofisticação crescente de suas tecnologias.

Embora ambos os países neguem, eles estão engajados em uma repetição no século 21 da corrida espacial rumo à Lua ocorrida na década de 1960 entre as duas superpotências da Guerra Fria. A pressa das duas nações em lançar os seus foguetes sugere que existe mais do que um simples interesse casual nos progressos feitos pelo concorrente.

A China anunciou neste mês que deverá lançar o seu primeiro satélite de órbita lunar, o Chang'e-1 (batizado em uma referência à mitológica "dama na Lua" chinesa) até o final deste ano, enquanto a Índia afirmou nesta semana que poderá lançar uma sonda espacial similar já em abril de 2008.

Os dois programas lunares devem ser cientificamente complementares. Os cientistas chineses enfatizam a meta do Chang'e de aprimorar a compreensão da geoquímica da superfície lunar, e a Índia concentra-se no mapeamento tridimensional da Lua.

O cientista do programa lunar chinês, Ouyang Ziyuan, disse ao "Financial Times" em 2005 que estava entusiasmado com a possibilidade de a Lua ser uma fonte rica de hélio-3, um potencial combustível para reatores de fusão nuclear que é escasso na Terra.

S Krishnamurthy, porta-voz da Organização Indiana de Pesquisa Espacial, disse na quarta-feira (30/05) que os benefícios decorrentes de potenciais fontes lunares de hélio-3 para o programa nuclear da Índia poderão ser "consideráveis".

Grupos não governamentais colocaram a agência espacial indiana na defensiva em relação ao programa, argumentando que é difícil para um país que abriga um quarto da população pobre do planeta justificar missões espaciais caras como essa.

Manmohan Singh, o primeiro-ministro da Índia, defendeu o programa, afirmando que o país precisa lidar com os problemas fundamentais relativos ao desenvolvimento e, ao mesmo tempo, cultivar ambições de operar nas fronteiras da ciência.

"No mundo cada vez mais globalizado no qual vivemos, uma base de conhecimento científico e técnico emergiu como fator determinante crítico da riqueza e do status das nações, e é isso o que nos dirige para programas dessa natureza", afirmou Singh no ano passado.

Krishnamurthy informou que a sonda Chandrayaan-1, que mapeará a superfície da Lua em busca de substâncias e elementos químicos, utilizando um espectrômetro e câmeras de mapeamento de terreno, durante uma missão de dois anos, custará o equivalente a US$ 96 milhões, o que representa um décimo do orçamento anual da Organização Indiana de Pesquisa Espacial.

Segundo o plano de três estágios adotado por Pequim, o satélite Chang'e será seguido por uma nave que pousará na superfície lunar e por uma missão que trará para a Terra amostras de rochas e solo da Lua. A Índia está construindo um robô de duas pernas para uma possível missão na superfície da Lua em 2011.

No entanto, o programa Chang'e terá que competir por recursos com o bastante divulgado programa espacial tripulado e com a iniciativa de Pequim no sentido de desenvolver os seus recursos espaciais de natureza militar.

Madhavan Nair, diretor da Organização Indiana de Pesquisa Espacial, disse nesta semana que a sua instituição submeterá um relatório ao governo indiano dentro de um ano informando se uma missão espacial tripulada, que provavelmente custaria o equivalente a US$ 2,4 bilhões, será necessária.

A Nasa fornecerá dois instrumentos científicos para a Chandrayaan-1, em um exemplo da iniciativa do governo Bush para a construção de uma parceria estratégica com a Índia. A peça central dessa parceria é um acordo de cooperação nuclear.

A Chandrayaan-1, equipada com um radar detector de água feito pelos Estados Unidos e um mapeador mineralógico lunar, será enviada ao espaço por um veículo lançador de satélites a partir do Centro Espacial Satish Dhawan, em Sriharikota, 100 quilômetros ano norte de Chennai.
Tradução: UOL

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