'Viagem a Marte é um desafio que a humanidade deve aceitar'
A moscovita Anastasiya Stepanova, de 28 anos, participa, com outros 100 candidatos, do processo seletivo para a primeira expedição humana ao Planeta Vermelho. Em entrevista à Sputnik Brasil, compartilha quais são as expectativas e os receios.
Vladimir Kultygin | Sputnik
– O que significa para você Marte e a sua colonização?
– Nós conhecemos tempos em que as pessoas interessavam-se pelo espaço, em muitos países da Terra se falava: "A gente conseguiu, agora vamos conhecer mundos novos". Mas tantos anos já passaram, e a situação só piorou. A gente não faz mais movimento progressivo, senão pelo contrário.
Isto é muito triste. Eu estou vendo o que interesse a gente hoje em dia. É muito doido não aproveitar das tecnologias avançadas, das possibilidades que temos, para viajar a outros planetas. É um mundo admirável, interessante, que tantas vantagens pode oferecer inclusive para a vida quotidiana. Mesmo aquelas coisas que hoje nós consideramos como evidentes: os celulares, a Internet… Se a gente não desenvolvia a ciência espacial, a astronáutica, isso não existiria. Isso é o progresso, a ciência e a astronáutica.
Eu sou um pouco utopista, claro, mas você pode ainda perguntar para os cosmonautas: quando se vê a Terra do espaço, se compreende que todas as nossas disputas, brigas, problemas econômicos só são mesquinhezes, complicações artificiais.
Mas um projeto que gera tanta incompreensão, tantas perguntas, talvez ajude o planeta inteiro a achar uma nova ideologia para a humanidade. Hoje em dia, nós evoluímos só em torno nosso: as redes sociais, os smartphones, a necessidade de postar fotos de "eu almoçando", "eu dormindo", "eu fazendo qualquer coisa"… Isto não é o importante.
Estação de pesquisa marciana em Utah, EUA |
– Os seus próximos te apoiam na sua decisão?
– Sim, eles me apoiam, eles veem que eu comecei a me desenvolver desde que eu comecei a participar deste projeto, que cada dia eu aprendo coisas novas, encontro pessoas interessantes. Eles veem que os meus olhos brilham, que eu sou feliz, e no momento, eles me apoiam.
Mas claro, eles têm a esperança que eu não vá a nenhuma parte. Você imagina um pai ou uma mãe que quisesse que o seu filho ou a sua filha viajasse para sempre na mais perigosa das viagens, com chances muito pequenas de sobreviver?
– Vocês planejam estabelecer contato com extraterrestres?
– Em Marte há rovers, mas ainda não acharam nada. Por isto, eu duvido que haja alguém lá.
Porém, existe a possibilidade de acharmos vida biológica primitiva. Foram detectadas em Marte substâncias orgânicas: metano e água. Mas rovers não podem acessar tudo, e talvez nós vamos fazer alguma pesquisa revolucionária na superfície marciana.
– Existem outros projetos "marcianos"?
– Sim, é a Mars Society, organização norte-americana sem fins de lucro, fundada por Robert Zubrin. Ele é cientista e também apoia o projeto Mars One. Eu o conheci em Moscou há uns anos, ele me contou sobre o projeto e me informou sobre uma expedição incomum.
Eles têm duas estações, uma no estado de Utah (EUA) e outra, no Ártico. A estação recria com exatidão as condições marcianas. Agora, está em curso o processo seletivo para a missão de um ano no Ártico.
Eu passei para as semifinais, que teve lugar em Utah — eu voltei a Moscou em dezembro [de 2014]. Eram duas semanas no deserto. Três equipes foram admitidos após o processo seletivo. Eu não conhecia ninguém na minha equipe. Outras cinco pessoas eram homens: três canadenses, um estadunidense e um francês. Eles são engenheiros e cientistas. A gente morou duas semanas na estação, em condições "marcianas". A estação, situada no meio de um deserto vermelho, assemelha-se àquelas colônias extraterrestres dos filmes de ficção científica.
Os trajes espaciais não eram reais. Não tinham sistema de fornecimento de oxigênio, só um sistema de ventilação. E pesavam 8 quilogramas, mais ligeiros do que os reais. Foi uma experiência ótima. Depois daquilo, o mundo é outro, você compreende que tudo o que você deixou de lado lá não é importante.
Agora a gente está esperando os resultados do processo seletivo para ir no Ártico, onde o projeto é para um ano.
– O que é mais importante para você, Marte ou o espaço?
– Eu acho que ambos. Primeiro, será importante ter conseguido, que conseguiremos chegar lá, pousar lá, sobreviver e existir normalmente. Será um êxito enorme. E depois, quando começaremos uma pesquisa mais profunda do planeta, será já o segundo nível do êxito.
– Você não tem medo?
– Tenho! Mas o que fazer? Eu compreendo que haverá dificuldades psicológicas, físicas. Mas os colonizadores de outrora, aqueles navegantes deviam ter passado dificuldades maiores.
– Sim, eles me apoiam, eles veem que eu comecei a me desenvolver desde que eu comecei a participar deste projeto, que cada dia eu aprendo coisas novas, encontro pessoas interessantes. Eles veem que os meus olhos brilham, que eu sou feliz, e no momento, eles me apoiam.
Mas claro, eles têm a esperança que eu não vá a nenhuma parte. Você imagina um pai ou uma mãe que quisesse que o seu filho ou a sua filha viajasse para sempre na mais perigosa das viagens, com chances muito pequenas de sobreviver?
– Vocês planejam estabelecer contato com extraterrestres?
– Em Marte há rovers, mas ainda não acharam nada. Por isto, eu duvido que haja alguém lá.
Porém, existe a possibilidade de acharmos vida biológica primitiva. Foram detectadas em Marte substâncias orgânicas: metano e água. Mas rovers não podem acessar tudo, e talvez nós vamos fazer alguma pesquisa revolucionária na superfície marciana.
– Existem outros projetos "marcianos"?
– Sim, é a Mars Society, organização norte-americana sem fins de lucro, fundada por Robert Zubrin. Ele é cientista e também apoia o projeto Mars One. Eu o conheci em Moscou há uns anos, ele me contou sobre o projeto e me informou sobre uma expedição incomum.
Eles têm duas estações, uma no estado de Utah (EUA) e outra, no Ártico. A estação recria com exatidão as condições marcianas. Agora, está em curso o processo seletivo para a missão de um ano no Ártico.
Eu passei para as semifinais, que teve lugar em Utah — eu voltei a Moscou em dezembro [de 2014]. Eram duas semanas no deserto. Três equipes foram admitidos após o processo seletivo. Eu não conhecia ninguém na minha equipe. Outras cinco pessoas eram homens: três canadenses, um estadunidense e um francês. Eles são engenheiros e cientistas. A gente morou duas semanas na estação, em condições "marcianas". A estação, situada no meio de um deserto vermelho, assemelha-se àquelas colônias extraterrestres dos filmes de ficção científica.
Os trajes espaciais não eram reais. Não tinham sistema de fornecimento de oxigênio, só um sistema de ventilação. E pesavam 8 quilogramas, mais ligeiros do que os reais. Foi uma experiência ótima. Depois daquilo, o mundo é outro, você compreende que tudo o que você deixou de lado lá não é importante.
Agora a gente está esperando os resultados do processo seletivo para ir no Ártico, onde o projeto é para um ano.
– O que é mais importante para você, Marte ou o espaço?
– Eu acho que ambos. Primeiro, será importante ter conseguido, que conseguiremos chegar lá, pousar lá, sobreviver e existir normalmente. Será um êxito enorme. E depois, quando começaremos uma pesquisa mais profunda do planeta, será já o segundo nível do êxito.
– Você não tem medo?
– Tenho! Mas o que fazer? Eu compreendo que haverá dificuldades psicológicas, físicas. Mas os colonizadores de outrora, aqueles navegantes deviam ter passado dificuldades maiores.
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