Sem opções, EUA e Europa dependem da Rússia para ir ao espaço
Em meio à crise ucraniana, mexer na cooperação espacial com a Roscosmos parece fora de questão. Acabar com a parceria poria em risco programas europeu e americano no setor e significaria fim da ISS.
Deutsch Welle
Atualmente, a Estação Espacial Internacional (ISS) tem seis tripulantes: três russos, um japonês e dois americanos. Todos chegaram ao espaço a bordo da nave russa Soyuz, que foi lançada de uma base, também russa, no Cazaquistão. Atualmente, essa é a única opção de se chegar à ISS.
Desde que, há três anos, os Estados Unidos aposentaram seus ônibus espaciais, somente aeronaves russas percorrem o trajeto de 400 quilômetros entre a terra e a ISS. E, essa situação deve permanecer inalterada até 2017, quando a Nasa (a agência espacial americana) terá novamente uma nave para enviar astronautas ao espaço.
Em meio à crise na Ucrânia, mexer na parceria espacial parece fora de questão nos EUA. O fim da cooperação com a Rússia significaria o fim da ISS. Astronautas, sejam europeus ou americanos, não chegariam ao espaço. E os russos perderiam o apoio financeiro e técnico, por exemplo, na comunicação e fornecimento de material, que vem dos EUA.
Na ISS, os parceiros internacionais estão todos no mesmo barco: a complexidade do módulo é grande demais para iniciativas nacionais. "Nossos astronautas continuam treinando na Cidade das Estrelas, perto de Moscou, e viajando com a Soyuz. A cooperação espacial ainda é muito boa", afirma Charles Bolden, diretor da Nasa.
A agência espacial dos Estados Unidos paga cerca de 70 milhões de dólares por voo para cada astronauta na Souyz – e cada vez que o dinheiro é enviado a Moscou é necessária uma autorização do Congresso americano. Na última vez em que foi questionado no Capitólio, Bolden disse que os voos para a estação espacial não são simplesmente operações de rotina, mas sim indispensáveis para futuras missões no espaço.
Tecnologia exclusiva
No espaço, a Nasa testa novos materiais para voos à Lua e a Marte, e os astronautas passam por testes médicos. "É um absurdo afirmar que nós poderíamos realizar missões nas profundezas do espaço, ao invés de voar para a ISS. Se nós não conseguimos chegar próximo à órbita terrestre, não haverá mais programas espaciais", diz o diretor da agência.
Em janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, decretou que o país participaria do projeto da ISS por pelo menos mais dez anos, buscando reforçar a parceria Rússia, Europa, Japão e Canadá o máximo possível.
Apesar de, além da estação espacial, não haver nenhum outro projeto de cooperação no espaço entre Rússia e Estados Unidos, os americanos dependem da tecnologia russa, inclusive para o lançamento de satélites.
O foguete de lançamento Atlas 5, dos EUA, opera com um mecanismo de propulsão russo. Ironicamente muitos satélites de reconhecimento do Ministério da Defesa americano também só podem ser lançados com um foguete de tecnologia russa.
E essa situação não pode ser revertida rapidamente. Não há outros foguetes de lançamento disponíveis na quantidade necessária, e um mecanismo de propulsão não pode ser substituído facilmente. Um boicote imediato da Rússia interromperia brevemente todos os lançamentos de Atlas 5 realizado em Cabo Canaveral, na Flórida.
Os americanos dependem de tecnologia russa até no novo projeto de transporte de carga para o espaço. Apesar de a Nasa ter contratado empresas privadas para enviar suprimentos e experimentos científicos para ISS, a espaçonave de carga Cygnus é lançada com o foguete Antares, que tem uma de suas partes construída na Ucrânia, numa região de forte influência russa.
Europeus sem saída
Caso os EUA reduzam drasticamente a cooperação com a Rússia, a Europa não vai poder preencher essa lacuna. A nave de abastecimento não tripulada da Agência Espacial Europeia (ESA), o Veículo de Transferência Automatizado (ATV), voará somente mais uma vez até a ISS e não será mais construída. Além disso, a Europa nunca desenvolver naves espaciais tripuladas.
Embora o foguete Ariane seja confiável, ele não transporta pessoas para o espaço. Devido aos custos, há décadas a política espacial europeia bloqueia o desenvolvimento de naves espaciais tripuladas.
No final de maio, o geofísico alemão Alexander Gerst deve ser enviado ao espaço por seis meses. Atualmente ele está na Rússia, treinando para sua viagem à ISS com um lançador russo. Em novembro, ele será substituído pela italiana Samantha Cristoforetti.
A ESA depende da Rússia para enviar seus astronautas ao espaço, além de cooperar mais intensivamente com a Roscosmos (a agência espacial russa) do que com a Nasa. Agora, a ESA pretende, com o apoio russo, pousar em Marte e procurar sinais de vida com um laboratório de pesquisa automático.
A China é a única alternativa para enviar astronautas ao espaço. Apesar de possuir naves tripuladas, o país não é parceiro na ISS. Para muitos na Europa e nos Estados Unidos, depender de tecnologia chinesa no futuro, ao invés de russa, seria ainda pior.
Os astronautas estão tranquilos. Nacionalidades não têm importância em missões internacionais: no espaço todos têm que confiar uns nos outros. O astronauta Reid Wiseman, que viajará com Gerst e o russo Maxim Surajev, elogia a hospitalidade e o treinamento profissional da Rússia. "Quando começarmos, voarão três amigos ao espaço", afirma o americano.
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