Gelo no equador poderá ajudar exploração de Marte
Depósitos de gelo comparáveis, em volume, aos existentes nos pólos de Marte podem existir a poucos metros de profundidade na região equatorial do planeta, sugerem leituras de radar feitas pela sonda européia Mars Express e descritas na edição online da revista Science, a Science Express. "As terras baixas de Marte são mais acessíveis ao pouso de naves, porque têm elevação menor", diz Thomas Watters, principal autor do artigo que discute a descoberta.
"Uma fonte de água nas terras baixas equatoriais seria muito valiosa para uma futura exploração por seres humanos", afirma.
A Nasa tem planos de enviar astronautas à Lua até 2020, e estabelecer um posto lunar que sirva de base para a preparação de missões futuras rumo a Marte, provavelmente não antes de 2030.
Um planeta de superfície extremamente seca - relatos de sinais de fluxo de água na superfície, feitos em 2006, acabaram não tendo confirmação - Marte acumula gelo nos pólos. Mas, segundo o artigo de Watters, a quantia de gelo no equador poderia ser equivalente à da calota polar sul.
"Durante períodos em que o eixo de rotação de Marte se inclina muito, os pólos são mais quentes e as regiões equatoriais, mais frias". Cientistas acreditam que o eixo de Marte é mais instável que o da Terra, podendo variar em inclinação de 0º a 60º ao longo da história geológica do planeta. A inclinação atual é de 25º, muito semelhante à da Terra.
Em períodos de inclinação maior, o gelo poderia evaporar dos pólos e condensar-se no equador. No processo de condensação, o gelo teria se misturado ao pó e areia na atmosfera, juntando-se às camadas de sedimento no solo. Medusae Fossae é um terreno sedimentar, composto por depósitos de cinza vulcânica.
O gelo mais próximo da superfície teria sido sublimado - convertido diretamente em vapor, sem derreter - deixando uma camada de alguns metros de poeira seca que funcionaria como "rolha" para impedir a fuga do gelo mais abaixo.
O artigo na Science Express levanta a possibilidade de os sinais captados pelo radar da sonda européia terem outra explicação que não água. A equipe de Watters usou as características do eco das ondas de rádio refletidas pelo solo marciano para deduzir a composição provável de Medusae Fossae, e chegou a duas hipóteses: depósitos de gelo misturados ao pó de rocha ou um material de porosidade anormalmente alta, a até 2,5 km de profundidade.
Se o material for gelo, a proporção de poeira misturada aos cristais de água é de 15% ou mais.
Além de fazer de Medusae Fossae um bom candidato a acampamento-base para os astronautas do futuro, a presença de água no equador, se confirmada, também poderá representar boas notícias para a busca de vida no planeta vermelho. "Se os depósitos forem mesmo ricos em água, não é impossível que abriguem alguma forma de vida", diz Watters.
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