Marte também vive 'aquecimento global'
Da Reuters
O planeta Marte enfrenta sua própria versão de mudanças climáticas -- alterações na radiação solar vêm provocando mais nuvens de poeira e fortalecendo os ventos, fenômenos esses provavelmente responsáveis por derreter a calota de gelo do pólo sul do planeta, afirmaram cientistas na quarta-feira (04).
Pesquisadores observam há anos as mudanças na superfície de Marte, estudando pequenas diferenças nos padrões de claridade e escuridão surgidas ali. Essas mudanças na luminosidade costumavam ser atribuídas à presença de poeira, mas, até agora, o efeito dela sobre a circulação dos ventos e sobre o clima não era claro.
Lori Fenton, cientista da Nasa (agência espacial dos EUA), e seus colegas, em um artigo publicado na edição desta semana da revista "Nature", agora acreditam que as variações na radiação verificada na superfície de Marte alimentam os ventos fortes responsáveis por provocar gigantescas tempestades de areia, prendendo o calor e elevando a temperatura do planeta.
Com base nas mudanças na luz refletida pela superfície do planeta -- uma medida conhecida como o albedo de um objeto --, os cientistas concluíram que o planeta esquentou cerca de 0,65ºC entre os anos 70 e os anos 90, o que pode explicar o recente recuo na calota de gelo do pólo sul de Marte.
Na Terra, vários tipos de gases (entre os quais o dióxido de carbono) lançados na atmosfera prendem a radiação infravermelha, provocando o chamado efeito estufa e alterando o clima do planeta. Em Marte, o fenômeno é resultado da poeira vermelha.
A equipe de Fenton comparou os mapas térmicos elaborados nos anos 70 pela sonda Vinking, da Nasa, com mapas traçados duas décadas mais tarde, pela sonda Global Surveyor. Os cientistas verificaram que grandes faixas da superfície do planeta haviam ficado mais escuras ou mais claras nas últimas três décadas.
Essas mudanças no albedo tornaram os ventos mais fortes, o que fez com que mais poeira ficasse em suspensão circulando pelo planeta. A poeira, a seu turno, intensifica ainda mais os ventos, gerando um círculo vicioso.
"Os resultados obtidos sugerem que as documentadas mudanças no albedo afetam as recentes mudanças climáticas e os grandes padrões climáticos de Marte", escreveu a equipe de Fenton. Os cientistas acreditam que as mudanças no albedo devem ser uma parte importante das futuras pesquisas sobre a atmosfera e as mudanças climáticas.
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