Cosmos | Por Carl Sagan

Cientistas estudam micro-organismos capazes de sobreviver no espaço

Plâncton encontrado na superfície da Estação Espacial Internacional criou temor de surgimento de bactérias perigosas.


Iúri Slinkó, especial para Gazeta Russa

No final de agosto, cosmonautas russos relataram a descoberta surpreendente de vestígios de plâncton marinho na superfície da Estação Espacial Internacional. Antes disso, em 2013, cientistas russos já tinham descoberto micro-organismos misteriosos do lado de fora de naves espaciais. Nos próximos meses serão revelados os resultados dos experimentos com esses microrganismos capazes de sobreviver e se multiplicar por várias décadas, apesar das condições adversas do espaço, como radiação, temperatura e vácuo.

De onde veio o plâncton?

A descoberta foi feita pelos cosmonautas russos Oleg Artémiev e Aleksandr Skvortsov durante o experimento Test, que tinha como objetivo avaliar as condições de vida da microflora, em particular microrganismos biodestruidores. O processo de coleta de amostras para a pesquisa foi publicado no site pessoal de Artémiev.

Não está claro como o plâncton conseguiu se desenvolver na superfície da estação, que está a 420 quilômetros da Terra. Até agora, considerava-se que os organismos sobreviventes no espaço entram nos equipamentos ainda na Terra. Mas o lançamento das naves para a estação cósmica internacional é realizado a partir da base de lançamento espacial de Baikonur, que está localizada em um deserto onde não há condições para a existência de plâncton marinho.

Vladímir Soloviov, chefe do departamento de lançamentos russos para a Estação Espacial Internacional, acredita que o plâncton pode ser levado para o espaço por correntes de ar que sobem da Terra e se depositam na superfície da Estação Espacial Internacional.

Ameaça à humanidade?

Graças à descoberta de Artemiev, os cientistas passaram a se preocupar com questões relacionadas à segurança contra tais microrganismos e à sobrevivência das bactérias. As preocupações em geral estão ligadas aos futuros voos para Marte, para os quais os Estados Unidos e a Rússia estão se preparando ativamente. De acordo com cientistas da Nasa, se essas bactérias podem não só sobreviver no espaço aberto, como também sofrer mutações, o sistema imunológico dos astronautas, enfraquecido pelo longo vôo, não poderá combatê-las em caso de infecção.

No entanto, biólogos russos acreditam que esse vírus não pode ser destrutivo, disseminar-se ou ser infeccioso depois da volta dos astronautas para a Terra, por isso não representa uma ameaça para a humanidade.

Ivan Márin, doutor de ciências biológicas do Instituto de Problemas Ecológicos e de Evolução de Severtsov, relatou a Gazeta Russa que por enquanto não foi registrada nenhuma mutação perigosa no cosmos: "É pouco provável que isso aconteça. O vírus torna-se mais perigoso quando se esforça para se adaptar aos efeitos dos remédios. E esse é um processo evolutivo normal. Mas condições meramente extremas não podem criar um monstro".

Outros casos

Apesar de os resultados dos testes de plâncton não terem sido ainda divulgados, de um ponto de vista científico, essa descoberta tem sua explicação e não é primeira vez que cientistas se deparam com esse tipo de ocorrência.

"O caso mais famoso foi ligado à primeira expedição lunar, em 1969”, disse o biólogo Aleksandr Slobódkin. “Os americanos estavam muito bem preparados - inclusive enviaram equipamento especial para a Lua em aparelhos espaciais. Mais tarde, após o pouso bem-sucedido do primeiro homem, os astronautas levaram o equipamento e o trouxeram à Terra com amostras de solo lunar”, contou.

“É preciso dizer que foi trazido muito solo lunar para a Terra - cerca de algumas centenas de quilos. Mas aquele solo revelou-se estéril, não foi encontrado nenhum vestígio de microorganismos. Os dispositivos enviados para a Lua também foram examinados. E aqui foi feita uma descoberta interessante. Da superfície da Lua trouxeram uma câmera, que esteve no satélite durante dois anos e meio. Nela, os microbiólogos encontraram a bactériaStreptococcus Mitis, comum na Terra. Essa bactéria não está protegida contra os efeitos nocivos do espaço aberto, mas de alguma forma ela conseguiu sobreviver na Lua durante dois anos e meio. Esse fato nos diz que no espaço não havia nada de extremo para esse micróbio", concluiu o biólogo.

Em maio de 2005, foram realizados experimentos com liquens, que conseguiram ficar fora da atmosfera da Terra por mais de duas semanas, mantiveram a capacidade de fotossíntese e não foram afetados de nenhuma maneira.

No verão passado, foram obtidos resultados de várias experiências científicas que provaram que alguns microrganismos (os tardígrados, invertebrados microscópicos) podem sobreviver no espaço aberto, sob a influência da gravidade, de vácuo, de baixa temperatura e radiação. No entanto, eles conseguiram sobreviver no espaço durante apenas dez dias.

Mas alguns microorganismos do espaço de origem desconhecida caracterizam-se por uma sobrevivência incrível. Um deles foi descoberto após o colapso do ônibus espacial Columbia, que em 2003 explodiu a uma altitude de 61 km. A bordo havia vários experimentos com bactérias e nenhum microorganismo sobreviveu. Mas surgiu um microrganismo completamente estranho que era uma impureza natural a bordo do ônibus espacial e sobreviveu à passagem através da atmosfera superior, à explosão e à queda de uma altura de 61 km.


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