Cosmos | Por Carl Sagan

Satélite brasileiro cai na Terra após lançamento falhar

O satélite chegou a entrar em órbita e funcionou durante 30 minutos


Herton Escohar | O Estado de SP

Uma falha no foguete de lançamento resultou ontem na perda do satélite CBERS-3, desenvolvido em parceria entre Brasil e China. O satélite chegou a entrar em órbita e funcionou durante 30 minutos, mas não atingiu a velocidade necessária para permanecer em órbita e acabou caindo de volta na Terra. 


O lançamento ocorreu no horário previsto (11h26 em Pequim, 1h26 em Brasília), do Centro de Lançamento de Satélites de Taiyuan, na China, e foi inicialmente considerado um sucesso por ambos os lados. Cerca de uma hora depois, porém, os chineses perceberam que algo estava errado. 

Segundo as análises preliminares, houve um problema no tempo de funcionamento do motor do último estágio do foguete - aquele que leva o satélite dentro de uma coifa, para colocá-lo efetivamente em órbita. O foguete parou de funcionar 11 segundos antes do previsto, de forma que o satélite foi liberado no espaço a uma altitude menor (720 km, em vez de 778 km) e com uma velocidade horizontal abaixo da mínima necessária (de 8 km/segundo) para permanecer em órbita. 

Sem velocidade suficiente para se contra por à atração gravitacional da Terra, o CBERS-3 começou a perder altitude rapidamente, até reentrar na atmosfera e ser pulverizado pelo calor gerado durante a queda. Acredita-se que ele tenha caído sobre a região da Antártida. 

"Tudo correu bem até 11 segundos antes do fim do lançamento", lamentou o vice-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Oswaldo Miranda. "Esses 11 segundos (de impulso) que faltaram foram fatais para o CBERS. É como num estilingue: se você não puxar bem o elástico, a pedra cai bem na sua frente." 

A diferença de altitude na órbita, segundo Miranda, poderia ter sido corrigida por meio do acionamento de propulsores internos do satélite. A perda de velocidade horizontal, porém, era incorrigível. Não se sabe qual foi a velocidade exata de liberação, "mas certamente ficou bem abaixo de 8 km/s", segundo Miranda. 

Ele ressaltou que, uma vez liberado pelo foguete, o CBERS-3 entrou automaticamente em operação e funcionou perfeitamente durante 30 minutos, antes de desaparecer. "Não houve nenhuma falha do satélite. O problema foi no lançador", afirmou. 

O CBERS-3 era o quarto de uma série de satélites de observação da Terra desenvolvidos por Brasil e China. 

Experiência. O foguete usado no lançamento era um Longa Marcha 4B, um modelo bem conhecido e de alta confiabilidade. A falha de ontem foi a primeira registrada no programa espacial chinês com esse tipo de foguete, após 34 lançamentos consecutivos de sucesso.

Nova tentativa está prevista para 2015


Diante da perda do CBERS-3, a prioridade do governo brasileiro agora é acelerar o processo de montagem e preparação do CBERS-4, o próximo satélite da série de cooperação com a China. O cronograma atual prevê o lançamento para daqui a dois anos, no fim de 2015.

"Vamos tentar reduzir isso ao máximo", disse o vice-diretor do Inpe, Oswaldo Miranda.

Segundo ele, seria "factível" ter o satélite pronto em um prazo de 12 a 14 meses, mas isso dependerá de negociações com o lado chinês. Uma comitiva do governo brasileiro que foi à China acompanhar o lançamento, liderada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, deverá permanecer no país por mais alguns dias para essa negociação.

Até que o CBERS estejá funcionando no espaço, o Brasil continuará a depender exclusivamente das imagens de satélites estrangeiros para observar o próprio território - situação que está em curso desde maio de 2010, quando o último satélite da série (o CBERS-2B) parou de funcionar. 

Dentro da parceria com a China, cada país é responsável por 50% da construção dos satélites. 

Os lançamentos, porém, são de total responsabilidade da China - apenas o custo, nesse caso, é dividido: US$ 15 milhões para cada um. 

O Brasil investiu cerca de R$ 320 milhões na construção dos CBERS-3 e 4. O Inpe ressalta, porém, que esse investimento não foi perdido com a queda do satélite, pois o conhecimento tecnológico adquirido no processo permanece intacto.


Comentários


Amazon Prime Video

Postagens mais visitadas