Marte: boas e más notícias do planeta vermelho
Cássio Leandro Dal Ri Barbosa | Observatório - G1
Esta semana foi repleta de novidades vindas de Marte. O motivo disso é que as equipes responsáveis pelos instrumentos da Curiosity, o jipe marciano mais simpático que a Nasa já fez (tem até página no Facebook!), soltaram vários resultados das campanhas feitas nos primeiros 3 meses de pesquisas. Dois desses resultados ganharam destaque. Vamos a elas!
A primeira, a má notícia, é que a equipe responsável pelo Espectrômetro de Laser Ajustável (TLS, na sigla em inglês) divulgou resultados mostrando que não há metano detectável em Marte. Amostras da atmosfera marciana foram estudadas em seis ocasiões, desde outubro de 2012 até junho de 2013, e em nenhuma delas houve a detecção de metano.
Esse foi um resultado surpreendente, pois esse gás já havia sido detectado tanto por telescópios na Terra quanto por satélites que orbitam Marte. Essas observações davam conta de que em determinadas localidades a concentração de metano era da ordem 45 partes por bilhão (na Terra é da ordem de 1.800 partes por bilhão). Isso foi há quase 10 anos. Essas descobertas fizeram com que muita gente se animasse com a possibilidade de haver vida em Marte, pois o metano é um dos subprodutos do metabolismo de bactérias anaeróbicas. Uma das estratégias para se procurar evidências de vida é procurar por metano. É possível também obter gás metano por mecanismos não biológicos, que envolvem água, gás carbônico e um mineral chamado de olivina. Todos esses ingredientes também estão presentes em Marte.
Só que, para a surpresa de todos e a decepção geral, o TLS não conseguiu detectar metano até um limite menor do que 1 parte por bilhão. As medidas foram efetuadas desde a primavera até quase o fim do verão marciano, para cercar a possibilidade de que a concentração de metano variasse por causa das estações do ano, assim como acontece com o ozônio na nossa atmosfera. Metano, mesmo que em pequenas concentrações, persiste em seu ambiente por 100 anos ou mais, ou seja, não há nada que possa explicar como o metano desapareceu em questão de 10 anos. A questão agora é tentar entender como aconteceu de haver duas observações tão discrepantes.
Bom, a boa notícia que também vem de Marte é sobre a água. Uma outra estratégia para se procurar por vida em outros planetas é procurar por água em estado líquido. A vida como conhecemos depende totalmente dela, mas isso é tema para outro post.
Se você for um dos escolhidos para ir a Marte nos próximos anos, sabe que não voltará mais. Não há ainda logística que permita enviar uma nave que possa fazer essa viagem e voltar com as pessoas. A ideia é mandar astronautas para uma viagem só de ida, que seriam na realidade colonizadores. Como tal, os colonizadores devem se virar para garantir sua própria subsistência, enquanto exploram o planeta.
A produção de água é vital para manter-se vivo em qualquer ambiente. A questão prática em Marte é: de onde conseguir essa água? Diversas vezes já foram obtidas evidências de que existe água por lá, mas não em lagos ou oceanos de fácil extração. Na verdade, ela estaria “presa”, misturada ao subsolo profundo marciano. Nessas condições, extrair a água não deverá ser um processo trivial.
Aí que chegaram as novidades da Curiosity.
Desta vez, amostras de solo foram estudadas pela ChemCam. Esta é uma câmera que analisa a composição química de material coletado da superfície. Essas amostras indicam que o solo marciano tem dois componentes distintos, um composto por partículas muito pequenas, a poeira marciana que, muito leve, é carregada pelo vento formando dunas. O segundo componente, a Curiosity descobriu, é formado por fragmentos de rocha da região estudada com menos de 1 milímetro de tamanho.
A ChemCam analisou amostras de mais de 100 localidades e em todas elas encontrou uma pequena, mas não desprezível, quantidade de gelo agregado à poeira marciana. O gelo estava presente em amostras superficiais e em amostras em que a Curiosity escavou alguns centímetros, representando entre 1,5 e 3% do material.
Isso abre boas perspectivas para a colonização marciana, pois apesar de haver pouco gelo agregado à poeira, há muita poeira espalhada por Marte inteiro. E não é nada complicado obter água dessa poeira, basta aquecê-la! Em suma: bastando um aquecedor que em qualquer lugar de Marte haverá água disponível.
Bom, se você for um dos colonizadores selecionados, não se esqueça de levar um aquecedor elétrico. Ah, e uma toalha, claro!
Esta semana foi repleta de novidades vindas de Marte. O motivo disso é que as equipes responsáveis pelos instrumentos da Curiosity, o jipe marciano mais simpático que a Nasa já fez (tem até página no Facebook!), soltaram vários resultados das campanhas feitas nos primeiros 3 meses de pesquisas. Dois desses resultados ganharam destaque. Vamos a elas!
A primeira, a má notícia, é que a equipe responsável pelo Espectrômetro de Laser Ajustável (TLS, na sigla em inglês) divulgou resultados mostrando que não há metano detectável em Marte. Amostras da atmosfera marciana foram estudadas em seis ocasiões, desde outubro de 2012 até junho de 2013, e em nenhuma delas houve a detecção de metano.
Esse foi um resultado surpreendente, pois esse gás já havia sido detectado tanto por telescópios na Terra quanto por satélites que orbitam Marte. Essas observações davam conta de que em determinadas localidades a concentração de metano era da ordem 45 partes por bilhão (na Terra é da ordem de 1.800 partes por bilhão). Isso foi há quase 10 anos. Essas descobertas fizeram com que muita gente se animasse com a possibilidade de haver vida em Marte, pois o metano é um dos subprodutos do metabolismo de bactérias anaeróbicas. Uma das estratégias para se procurar evidências de vida é procurar por metano. É possível também obter gás metano por mecanismos não biológicos, que envolvem água, gás carbônico e um mineral chamado de olivina. Todos esses ingredientes também estão presentes em Marte.
Só que, para a surpresa de todos e a decepção geral, o TLS não conseguiu detectar metano até um limite menor do que 1 parte por bilhão. As medidas foram efetuadas desde a primavera até quase o fim do verão marciano, para cercar a possibilidade de que a concentração de metano variasse por causa das estações do ano, assim como acontece com o ozônio na nossa atmosfera. Metano, mesmo que em pequenas concentrações, persiste em seu ambiente por 100 anos ou mais, ou seja, não há nada que possa explicar como o metano desapareceu em questão de 10 anos. A questão agora é tentar entender como aconteceu de haver duas observações tão discrepantes.
Bom, a boa notícia que também vem de Marte é sobre a água. Uma outra estratégia para se procurar por vida em outros planetas é procurar por água em estado líquido. A vida como conhecemos depende totalmente dela, mas isso é tema para outro post.
Se você for um dos escolhidos para ir a Marte nos próximos anos, sabe que não voltará mais. Não há ainda logística que permita enviar uma nave que possa fazer essa viagem e voltar com as pessoas. A ideia é mandar astronautas para uma viagem só de ida, que seriam na realidade colonizadores. Como tal, os colonizadores devem se virar para garantir sua própria subsistência, enquanto exploram o planeta.
A produção de água é vital para manter-se vivo em qualquer ambiente. A questão prática em Marte é: de onde conseguir essa água? Diversas vezes já foram obtidas evidências de que existe água por lá, mas não em lagos ou oceanos de fácil extração. Na verdade, ela estaria “presa”, misturada ao subsolo profundo marciano. Nessas condições, extrair a água não deverá ser um processo trivial.
Aí que chegaram as novidades da Curiosity.
Desta vez, amostras de solo foram estudadas pela ChemCam. Esta é uma câmera que analisa a composição química de material coletado da superfície. Essas amostras indicam que o solo marciano tem dois componentes distintos, um composto por partículas muito pequenas, a poeira marciana que, muito leve, é carregada pelo vento formando dunas. O segundo componente, a Curiosity descobriu, é formado por fragmentos de rocha da região estudada com menos de 1 milímetro de tamanho.
A ChemCam analisou amostras de mais de 100 localidades e em todas elas encontrou uma pequena, mas não desprezível, quantidade de gelo agregado à poeira marciana. O gelo estava presente em amostras superficiais e em amostras em que a Curiosity escavou alguns centímetros, representando entre 1,5 e 3% do material.
Isso abre boas perspectivas para a colonização marciana, pois apesar de haver pouco gelo agregado à poeira, há muita poeira espalhada por Marte inteiro. E não é nada complicado obter água dessa poeira, basta aquecê-la! Em suma: bastando um aquecedor que em qualquer lugar de Marte haverá água disponível.
Bom, se você for um dos colonizadores selecionados, não se esqueça de levar um aquecedor elétrico. Ah, e uma toalha, claro!
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