Troca de satélite pode prejudicar previsões do tempo no Brasil
Novo equipamento monitora o País com menos frequência e ainda há risco de ser usado só para Hemisfério Norte
Herton Escobar - O Estado de SP
Meteorologistas brasileiros terão de se preocupar também com o clima do Hemisfério Norte em 2010. Caso haja eventos extremos por lá, a previsão do tempo no Brasil poderá ser prejudicada, com impactos sobre a Aviação civil, agricultura e o monitoramento de tempestades.
O satélite americano do qual o País dependia para esse serviço, o GOES 10, foi desativado no início de dezembro. Ele produzia imagens da América do Sul a cada 15 minutos. Seu substituto imediato, o GOES 12, continua a fornecer imagens do continente, mas com uma frequência menor - a cada 30 minutos.
Até aí tudo bem. Os 15 minutos a mais não alteram a confiabilidade da previsão do tempo no País, segundo o chefe da Divisão de Satélites do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Frederico de Angelis.
O problema é quando houver condições meteorológicas extremas no Hemisfério Norte - situação frequente no verão e na primavera, quando ocorrem as temporadas de furacões e tornados nos Estados Unidos. Nesse caso, os "olhos" do GOES 12 poderão ser direcionados para lá, deixando o Brasil "às cegas" por períodos de até três horas. "Aí começamos a ter problemas, pois, com essa periodicidade, não conseguimos fazer previsões de curto prazo (para períodos menores do que três horas)", explica de Angelis.
Isso pode ser um problema para a previsão e o monitoramento de tempestades que se formam e se deslocam rapidamente, como as pancadas de chuva que vêm causando desastres no Rio e em São Paulo nas últimas semanas.
"É um pouco complicado, pois há nuvens que se formam e desaparecem em questão de uma hora, e não teremos registro delas", diz o coordenador geral de Agrometeorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Alaor Moacyr Dall"Antonia Junior.
A segurança na Aviação também poderia ser comprometida, com uma diminuição na precisão das previsões meteorológicas para planejamento de voos. Na agricultura, o Inpe ficaria impossibilitado, por exemplo, de calcular o acumulado de chuva para um determinado dia com base em imagens de satélite - uma informação crucial para o manejo das lavouras. "Com imagens a cada três horas, o erro torna-se muito grande. O cálculo deixa de ser confiável", explica de Angelis.
DEPENDÊNCIA
Os satélites GOES (Geostationary Operational Environmental Satellite) pertencem à NOAA, a agência federal americana que monitora os oceanos e a atmosfera. São aparelhos geoestacionários, o que significa que ficam posicionados sempre sobre um mesmo ponto do Equador, enquanto suas câmeras escaneiam a superfície.
O GOES 10 olhava só para o Sul e levava 15 minutos para escanear todo o hemisfério. O GOES 12 olha para o Sul e para o Norte, por isso leva o dobro do tempo para produzir as imagens de cada continente.
Os dados são fornecidos gratuitamente aos países da América do Sul por um acordo com a Organização Mundial de Meteorologia. O problema é que, pelo acordo, a NOAA tem obrigação de prover imagens a cada 3 horas, mas não menos do que isso.
O GOES 10 foi desativado em 1º de dezembro, após 12 anos de serviço, e imediatamente substituído pelo GOES 12. A agência americana mantém sempre três satélites em órbita: um para o leste dos Estados Unidos, outro para o oeste e um terceiro, de reserva, caso haja problemas com os outros dois.
O satélite mais novo da série, o GOES 14, foi lançado em junho do ano passado e está passando por um período de comissionamento. Segundo Dall"Antonia, do Inmet, uma vez que esse processo seja concluído, o GOES 14 deverá assumir a função do GOES 12 para o Hemisfério Norte, e o GOES 12 passará a se dedicar exclusivamente à América do Sul, como fazia o GOES 10. A expectativa é que isso ocorra em junho deste ano.
Até lá, Dall"Antonia garante que "o Brasil não ficará descoberto", pois pode ainda recorrer ao satélite europeu Meteosat, que fornece imagens a cada 15 minutos. De Angelis, do Inpe, porém, faz a ressalva de que "a única região de boa confiança para o Meteosat é o Nordeste", por causa da posição do satélite (que fica na interseção de Greenwich com o Equador, sobre a costa da África).
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